22.6.10

Cotidiano




Beijou sua esposa, brincou com o cachorro e sorriu pela ultima vez,

Saiu pela porta simples, ela ringiu, ele prometeu em mente que iria concertar,

Não consertou.

Entrou no carro e esquentou o motor, lembrou que tinha que olhar o óleo, deixou pra depois, ou nunca mais;

Morreria às três e meia.

Sorriu pra o vizinho, passou e prometeu devolver a chave de fenda, aquela que pediu emprestado há um mês, mas sempre tinha coisas mais importantes a se fazer, refletia: “ele não precisa, se precisa-se procurava-o”;

Nunca mais devolverá.

Chegou ao trabalho com sorriso estampado, aquela felicidade de sempre, cumprimentou os amigos, relembrou a cerveja da semana passada, combinou outra para o final de semana,

Ele não irá aparecer;

Trabalhou, mas continuava feliz, gostava do que fazia; esperava ficar velhinho e visitar os novatos que tomariam conta de sua vaga e sonhava em simplesmente rir de tudo isso,

Falar-lhes como o tempo passava rápido e dizer-lhes que ontem mesmo era ele quem administrava aquela mesa;

Mas ele não terá tempo para isso, morrerá.

Seu Horário de almoço atrasou, pensou em voltar para casa, mas não daria tempo de cumprir as obrigações, ligou para a esposa, disse-lhes que não almoçaria em casa, ela entendeu,

Disse que iria o esperar na casa de sua mãe,

mas nunca soube que não iria escutá-lo mais;

disse o ultimo “eu te amo” e despediu.

Desligou; Eram três e meia.


(Felipe Correia)

7.6.10

Entre o circo as lagrimas e os risos. P1




aqui jaz um palhaço triste,
Onde as lagrimas apagam a maquiagem e a transforma em tristeza,
Bela era minha face, ou era apenas um disfarce?;
Onde por trás de toda a alegria se escondia minha única beleza: minha dor;

Escrevo-lhes para falar sobre meu fim; sobre o adeus de minha vida,
Falo-lhes por versos, palavras onde também tropeço,
Onde exponho minha verdadeira vida, ou suas feridas,
Escrevo lhes como se estive vivendo e fazendo meus gestos,
Brincadeiras e sorrisos incertos,
Por onde andei e por onde trilhei meus becos sem saída;

Agora lhes falo, sim! , eu fui feliz no picadeiro,
Mas quando via - me diante do espelho me perguntava: e agora? Quem me fará sorrir?

Sozinho permaneci por toda minha vida,
Entre brincadeiras e beijos,
Sorrisos e desejos,
Chorei;
Não por tristeza, mas por inveja de tanta alegria,

Não me perguntem por que não consigo ser feliz,
Eu não entendo o porquê disso tudo,
Sinto me apenas imundo,
Não merecendo a vida que me condiz,

Não sei se quero continuar em vida,
Apenas irei pausar um pouco de minha historia,
Quero apenas deixar-lhes na memória
Um pouco das palhaçadas de uma vida sofrida.


(Felipe Correia)